ARQUITETAS E ARQUITETOS NEGROS PELO MUNDO
MAPEAMENTO DA PRESENÇA NEGRA NO CAMPO DA ARQUITETURA, URBANISMO E PLANEJAMENTO URBANO [2017-2021]

Nascimento
1981, Cidade do Cabo - África do Sul.
Biografia
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Ilze Wolfl nasceu em 1981 na Cidade do Cabo, na província do Cabo Ocidental, na África do Sul. Formou-se na Escola de Arquitetura da University of Cape Town, em 2004 e três anos depois, co-fundou a Open House Architecture, uma plataforma que pesquisa que documenta ativamente a arquitetura local, promovendo visitas guiadas à edifícios da cidade. Paralelamente à OHA, Ilze dirige o estúdio de design Wolff ao lado de seu marido Heinrich. Sua ideia é desenvolver uma prática que inclua outras saídas como escrita, criação, publicação em diálogo com a prática arquitetônica disciplinar tradicional de design e construção.
Em entrevista ao site Between10ands em 26 de agosto de 2015, Ilze contou que durante seus estudos de graduação, foi confrontada pela primeira vez a analisar o espaço de maneira diferente. Ninguém na sua família tinha estudado arquitetura e até então, o design de edifícios e cidades não eram coisas que estava ciente. Vinda dos subúrbios do norte da Cidade do Cabo, quando chegou à escola de arquitetura da UCT, (University of Cape Town), os prédios comerciais severos e os shopping centers temáticos tornaram-se sua referência em arquitetura. Hoje se dedica à tentar entender as relações entre a produção da cidade com as condições sociais nela implicadas, ou seja, a modernidade e o apartheid. Concluiu seu Mestrado em Estudos Africanos na UCT, com foco em herança, história arquitetônica e cultura pública. O processo de estudar arquitetura no departamento de estudos africanos enriqueceu seu pensamento arquitetônico. Seu treinamento até então esteve concentrado na arquitetura como um objeto de design: o aspecto dos edifícios, o seu desempenho técnico, a forma como eles funcionavam e como contextualmente foram singularmente promovidos a marcadores importantes de um bom projeto arquitetônico. Os estudos africanos promoveu sua implicação em pesquisas interdisciplinares e, com isso, descobriu a vida social dos edifícios. No contexto da África do Sul, onde o espaço arquitetônico está tão incorporado à designação de poder e à falta de poder das pessoas, os edifícios se tornam altamente politizados. No âmbito dos Estudos Africanos, Ilze pode explorar essa dimensão do espaço arquitetônico como locais de poder.
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No escritório Wolf Architects, ao lado de seu parceiro Heinrich Wolff, Ilze acredita que desenvolve diferentes maneiras de ser arquiteto. Ambos tem interesses extremamente amplos, com foco no espaço e no design do espaço, aliando curiosidade sobre o ambiente construído e engajamento ativo no mundo, seja documentando espaços esquecidos, defendendo a retenção de edifícios sob ameaça de demolição ou pesquisando áreas não familiares da prática. Essas práticas alargadas estabelem uma cultura pública específica em torno da arquitetura e conversas para além dos profissionais da área. Escrever, fazer, publicar, advogar e documentar são formas de ampliar o conhecimento sobre arquitetura, enriquecer e manter o trabalho criativo, assim como estimular seus colaboradores .
Um de seus projetos mais memoráveis desenvolvidos a partir de um compromisso de longo prazo com as fábricas Rex Trueform, em Salt River. Ilze escreveu uma biografia dos edifícios documentando narrativas dos trabalhadores, dos arquitetos e de seu desenvolvimento futuro. No final do ano passado, organizou uma visita a esses locais, que estão em vários estados de habitabilidade e abandono, e fez a curadoria de uma exposição no local, com alguns dos materiais de arquivo das fábricas. Para ela, os espaços têm uma potência específica, embora estejam vazios e aguardando desenvolvimento. Eles se tornam um ponto de reflexão sobre seu passado. Outrora um lugar de intensa indústria urbana e ponto de entrada da arquitetura moderna e dos modos no qual desempenhou importante papel na formação de nossas sociedades e de nossas identidades.
A Open House Architecture, co-fundada por Ilze em 2007, é uma organização responsável por pesquisar e documentar a arquitetura sul-africana através de visitas. A arquiteta afirma que muitas vezes esquecemos a riqueza do conhecimento arquitetônico que existe na África do Sul porque o impulso é sempre olhar além das nossas fronteiras em busca de ideias. As cidades são moldadas pelo legado do planejamento do apartheid e, atualmente, são ainda mais segregadas pelas aspirações capitalistas e globais. Mas para Ilze, dentro deste terrível ambiente urbano existem momentos de extrema criatividade e inovação arquitetônica, muitas vezes negligenciados ou pormenorizados. Nesse sentido, a Open house começou a organizar passeios que despertassem a curiosidade sobre a arquitetura sul-africana e as particularidades do seu design. Através dos passeios, Ilze pode acessar essas particularidades e entender o que esses edifícios representam em seus contextos. Das visitas promovidas pela One Open House destacam-se as casas projetadas por Pius Pahl, arquiteto alemão que estudou na Bauhaus sob Mies van Der Rohe na década de 1930 e depois imigrou para a África do Sul; e os edifícios industriais de Max Policansky.
No ano de 2019 ela esteve em 24 de Maio na 12ª Bienal de São Paulo com o projeto Nova República, o projeto conjunto do antropólogo brasileiro Hélio Menezes com os arquitetos do Wolff Architects, escritório baseado na Cidade do Cabo, na África do Sul, considera o entorno imediato do Sesc 24 de maio como lente de observação de influências reflexas, tratando de forma tanto literal quanto alegórica duas realidades cotidianas correlatas: um vis-à-vis concreto e uma fronteira invisível.
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Fascinada pela história social dos edifícios, Ilze destaca que as pessoas habitam os edifícios e, portanto, desenvolvem narrativas e imaginários sobre eles. Muitas vezes essas narrativas descrevem um momento particular na vida da cidade, no qual as experiências individuais são centrais para entendê-las. Para a arquiteta, através dos edifícios é possível começar a documentar as subjetividades. Os edifícios evocam certas histórias e detalhes da vida que, de outra forma, permaneceriam inalterados. Por exemplo, que memórias surgem para um ex-operário quando ele vagueia pela fábrica vazia? Ou como uma empregada doméstica descreveria a casa inspirada na Bauhaus que ela limpa todos os dias? E que perspicácia um segurança poderia ter no estilo brutalista, na burocracia do prédio de escritórios modernos que ele protege? Ilze está interessada nas histórias e nos momentos de habitação dos edifícios, nos vestígios da ocupação humana, no resíduo da memória que é tangível na arquitetura e no espaço.
Em suas reflexões sobre as diferentes maneiras de ser arquiteto, Ilze destaca que as habilidades desenvolvidas ao estudar arquitetura, como o pensamento conceitual e o pensamento crítico, juntamente com uma profunda compreensão do espaço, permite a possibilidade de aplicação desse aprendizado de forma vasta e infinita. Por exemplo, publicar e escrever, projetar microarquitetura como móveis e joias, organizar eventos e discussões públicas, documentar através da fotografia e do cinema, etc. Para ela não existe uma maneira pura de praticar arquitetura, não é relevante trabalhar nesse modo. Para permanecer inovador, é preciso continuar explorando outros meios de produção arquitetônica. Em entrevista ao site Design Indaba, intitulada “A million ways to be an architect”, Ilze fala que gostaria de ser conhecida como uma arquiteta que não conhece limites.
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Fonte
https://urbismagazine.com/articles/cape-town-profilles-ilze-wolff/#img=4 https://10and5.com/2015/08/26/creative-women-ilze-wolff-on-developing-an-architectural-practice-of-consequence/
https://www.designindaba.com/articles/point-view/million-ways-be-architect
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Projetos
http://www.wolffarchitects.co.za
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Produções Artísticas
Vídeos
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Meet the Makers: Wolff Architects
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